quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cris Guerra

 Meu coração estava grávido.Grávido de um coração de vazios.
Grávido de um coração oco. Que viveu de quases. Quase amor, quase entrega, quase coragem, quase inteiro, quase ele mesmo. Quase.
Meu coração grávido tudo viveu, tudo disse, tudo fez. Agora, não há mais nada. Nada a dizer, a fazer, nada a somar.
Meu coração estava grávido de uma história só sua, tentando em vão entrar num roteiro fechado. Grávido e solteiro. Meu coração estava grávido de um amor só meu. Não respirou outro ar, não bebeu de outro leite. Quase morreu à míngua. Mas era de si mesmo que o meu coração estava grávido. Meu coração pariu outro coração de mim mesma e agora está vazio. Mas é um vazio bom. Vazio de outro vazio, meu coração se enche de si. Vazio de prisões, meu coração está cheio de possibilidades. Eu o sinto vazio e quieto. Eu o sinto em paz.

Cris Guerra

Carlos Drummond de Andrade


Queria ter coragem Para falar deste segredo 
Queria poder declarar ao mundo Este amor 
Não me falta vontade Não me falta desejo 
Você é minha vontade Meu maior desejo 
Queria poder gritar Esta loucura saudável 
Que é estar em teus braços Perdido pelos teus beijos 
Sentindo-me louco de desejo Queria recitar versos 
Cantar aos quatros ventos As palavras que brotam 
Você é a inspiração Minha motivação 
Queria falar dos sonhos Dizer os meus secretos desejos 
Que é largar tudo Para viver com você Este inconfesso desejo... 

Carlos Drummond de Andrade